quarta-feira, abril 11, 2007

A Graça

...então, sua vontade de falar, veio à tona. E a voz sem tom e som, fez seu gesto nos lábios mudos.
E o cego que outrora via, ouvia a agonia de Arnaldo ao berrar inutilmente, com fervura e vontade de viver.
Mas injusta é a vontade, nos dando a água salgada para matar a sede.
O padre, até então rindo, virou-se para Arnaldo e deu-lhe a mão, e esta, com um tapa quebrou sua fé no mundo. Já não ouvia as gargalhadas dos coroinhas moribundos que corriam pelas galerias.
Jogando suas lágrimas com toda a força no chão de granito, escorregou a testa para frente até deitar. As sandálias de couro marrom lhe esmagavam as orelhas surdas, e a única coisa que sentia nas costas da mão era o frio do piso negro.
O cheiro do sangue seco foi se acabando aos poucos. E as lembranças dos odores do vinho e da hóstia, vinham a todo instante em sua mente confusa. "Eu era tão amado por Ele".
A impotência e a imponência guerreando. Intolerante e onipotente, o sacerdote fez o julgamento entre um chute e outro. E agindo em nome de Deus, furou seus olhos com a cruz de prata.
Arnaldo enfim aprendeu sua lição.
Agradecido sorriu aos céus.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caí não sei como por essas redondezas, e estou a gostar muito. Ainda mais quando vejo que és de Bombinhas (sou de Floripa). Voltarei mais vezes.

Abs

segunda-feira, junho 18, 2007 10:11:00 PM  

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